RAIMUNDO MARINHO PINTO
(Esmiuçador de Biografias e de
Fatos Históricos)
Email:raimundomarinhopinto@bol.com.br
Na década de 1950, aconteceu um
episódio histórico, envolvendo o historiador LUIZ DA CÂMARA CASCUDO e um
estudante de direito.
O rapaz encontrara Cascudo no
Rio de Janeiro, num restaurante, e, ao ser interpelado por este, sobre se era
filho de Hermes Lima, respondera brincando que sim.
Cascudo saudou-o efusivamente:
“Sou amigo do seu pai; quando for a Natal me procure”. O estudante se chamava
Bartolomeu, era um boêmio criativo, gostava da farra e da hilaridade. Tinha um
amigo companheiro de aventura um médico, cearense rico, bonachão, seu
confidente de brincadeiras e armações, conhecido como Dr. Bié. O espírito da
coisa era enganar pessoas maduras e importantes, passando-se por alguém ou
filho de alguém importante, somente com o intuito de gozar a boa fé e inocência
dos outros.
Era uma fantasia, mas que podia
trazer consequências desastrosas, se por acaso falhasse o plano que Bartolomeu
montava com o apoio moral e financeiro do Dr.Bié, folclórico personagem da
boêmia de Fortaleza. Não era o caso de golpe ou de vigarice. Era uma
brincadeira boêmia, sem requinte de maldade, que não dava prejuízo a ninguém, a
não ser como no caso de Natal, onde não deu certo para nenhuma das partes
envolvidas.
Bartolomeu com brincadeiras com
o Dr.Bié: “Vou a Natal pregar um trote em Dr. Cascudinho. Espero por você lá
para pagar as contas que vou fazer, e depois o acompanho ate Fortaleza”.
O estudante chamava-se
Bartolomeu dos Santos, mas identificou-se na cidade de Natal como Bartolomeu
Lima, suposto filho do grande mestre de direito e político esquerdista, Hermes
Lima, que viria ser mais tarde primeiro-ministro do governo João Goulart, no
regime parlamentarista, ministro do exterior e do supremo tribunal federal.
Bartolomeu chegando a Natal
procurou o mestre Luiz da Câmara Cascudo, sendo recebido pomposamente. Cascudo
ofereceu-lhe um jantar, em sua residência. Serviu-lhe um bom vinho e um
especial conhaque espanhol. Cercou-o dos seus melhores convivas. Convidou os
amigos importantes para homenagear o filho do seu velho companheiro Hermes
Lima.
Bartolomeu era uma figura
inteligente. Conhecia literatura. Declarava os grandes poetas. Memória
privilegiada repetia integralmente crônicas famosa de Rubem Braga, sobre uma
“caçada de pacas”.
O rapaz agradou tanto aos
convidados de Cascudo, que no dia seguinte era convidado por Américo de
Oliveira Costa, então Secretário Geral do Estado, para almoçar no “Granada Bar”
uma deliciosa lagosta, irrigada de vinhos, francês, tendo como convidados Edgar
Barbosa e Antonio Pinto de Medeiros, que ouviriam a memorização da crônica do
velho Rubem.
Depois de conhecer e conversar
com outras figuras ilustres da cidade, durante o dia, Bartolomeu à noite
refestelava-se nos salões de Maria Boa, ouvindo o piano de Paulo Lira, tomando
bom uísque, cercado por damas bonitas e elegantes. Ali ele dizia: ”Aqui quem
paga sou eu”.
Certo que contava com a chegada
do seu amigo rico, no final de semana de tanta festa e recepção. Para tanto,
preparou a embaixada de músicos e novos amigos para recepcioná-lo no aeroporto.
Convocou o tocador de sanfona Zé Menininho e os seus novos conhecidos de
boêmia, Roberto Freire e Luiz de Barros. Foi uma decepção. Dr.Bié não chegou,
nem, mandou recado.
Voltando para os braços da
noite e da bonita mulher que o aguardava em Maria Boa, caiu em sono profundo.
Sua companhia de noitadas, por experiência, inspecionou-lhe o bolso do palito.
Não encontrou dinheiro, nem cheque. Apenas uma identidade com um sobrenome
diferente e a filiação também.
Acordada a dona da pensão,
Maria Boa, esta convocou a policia. Ai começou o calvário do venturoso
Bartolomeu, personagem das noites cariocas e dos trotes, das gozações, das
armações, enganações. Estava preso para pagar uma dívida de três noites de
muito uísque, jantares e indenização ás meninas que ficaram à sua disposição.
Certo dia chega um informe da
delegacia de ordem política e social, que ficava na Ribeira, no prédio da
antiga chefatura de policia. Dizia à informação que um estudante de direito,
preso, precisava da presença de um repórter, para prestar esclarecimento a
respeito de sua detenção.
Dirigiu-se ao local, papel e
caneta à mão. O repórter Ticiano Duarte do Diário de Natal deparou-se com um
jovem simpático, comunicativo, alegre, detido numa das salas da delegacia.
Ao ver o repórter, foi logo
dizendo: ”Meu caro repórter, sou estudante de direito, estou aqui numa situação
desconfortável”.
E passou a narrar sua aventura,
que deu lugar a uma longa e interessante reportagem, sobre incidente envolvendo
pessoas ilustres da cidade, inclusive nosso querido mestre Luiz da Câmara
cascudo.
Entregou uma carta pedindo
desculpas à cidade. Reconhecendo o crime que cometera. A falta imperdoável.
Cascudo não merecia o seu gesto irresponsável: “O meu crime é internacional.
Cascudo é um homem do mundo, respeitado e admirado”.
A cidade o perdoou, o governo
Sylvio Pedrosa mandou dar-lhe a passagem de volta e deixá-lo no aeroporto, sob
a guarda da polícia civil. E pediu que Edilson Varela (jornalista) parasse
com as noticias sobre
Bartolomeu, que tanto constrangerá: Cascudo. O mestre que não queria nem ouvir
falar na história do filho de Hermes Lima.
Não se sobe mais noticia de
Bartolomeu dos Santos, das suas fanfarreadas, bravatas e audácias que
enriqueceram o folclore da boêmia da cidade.
Moral da história, “Uma pessoa
pode enganar o mundo todo, mas não por muito tempo”.
Fonte: Anotações do meu caderno
– Ti ciano Duarte.
hahaha história sensacional, amei muito Natal sou do Paraná
ResponderExcluir